A FORÇA DO FUTEBOL - I

Categoria: ESPORTE
Publicado em: 04/01/2021 09:38:29

 

Em Guará, nas quadras e nos campos, projetos esportivos abrigam centenas de crianças e adolescentes, muitos dos quais são encaminhados para empregos e faculdades. Nesta primeira matéria de uma série sobre as escolinhas da cidade, conheça a história do Fut-Fera

Essas meninas são feras

É ela mesma quem admite, sem constrangimentos. Com a palavra, Daniela Cristina da Silva Pereira, sobre 2016, ano em que foi criado o projeto Fut-Fera, da qual ela faz parte desde o início:

– Fazia dois anos que eu tinha parado de estudar. Ficava em casa, sem fazer nada, ou na rua, querendo conhecer coisa errada. Jogar futsal aqui mudou bastante a minha vida. Foi onde me afastei daquilo, das coisas erradas, de más companhias”.

Se a perspectiva, antes, era de incertezas e descaminho, hoje Daniela bota fé de que está no rumo certo:

– Já concluí o colegial e quero jogar em um time grande. Se possível, quero jogar e também estudar. Quero fazer Educação Física - diz ela, que mora com a mãe e o irmão gêmeo no conjunto Nélio dos Santos.

Quatro anos depois de trocar a rua pelo Fut-Fera, Daniela, hoje com 20 anos de idade, é simplesmente a capitã do primeiro – e até agora único – time profissional da história de Guará.

O Fut-Fera abriga atualmente cerca de 60 meninas, 20 na equipe adulta e 40 nas categorias de base, dos 12 aos 18 anos. Em quatro anos de atividade, o projeto obteve resultados esportivos expressivos.

A base, representando Guará, foi campeã nos Jogos Regionais de 2019 – já havia sido vice no ano anterior. Nos Jogos Abertos do Interior, também de 2019, foi a 5ª melhor equipe da competição.

O time adulto não fica atrás. Em 2018, foi campeão da Série Prata da Copa Paulista e Sul de Minas. É bicampeão da Copa Salense (2018-19) e no final de novembro conseguiu chegar às semifinais da Liga Paulista do Interior, o que valeu uma vaga na Copa do Brasil, que será disputada de 19 a 24 de janeiro em Bento Gonçalves (RS) – competição importante, que classifica para a Copa Sul-Americana.

O Fut-Fera é uma iniciativa de Francimir Florentino da Silva, guaraense de 38 anos que por uma década e meia jogou futebol de campo profissionalmente. Passou primeiro pelos dois times de Ribeirão Preto (Botafogo e Comercial) e depois rodou Brasil afora.

Quando estava no Gurupi, de Tocantins, Cimir, como é conhecido, sofreu uma pubalgia, lesão que afeta os tendões dos músculos abdominais e compromete a carreira de nove em cada dez jogadores. Deixou o futebol profissional e retornou para Guará. Treinava sozinho, no campo do Ginásio de Esportes.

Treinava como se treina profissionalmente, até chamar atenção de pessoas como César Moreira – que sugeriu a ele que passasse a treinar um time – e Fru Chaud, então secretário de Esportes, que colocou a quadra do ginásio à disposição.

Assim, Cimir passou a comandar meninas que brincavam de futebol de salão no parquinho do Helena Telles e nas quadras dos conjuntos Nossa Senhora das Graças e Itapema, sem que tivessem alguém que as coordenasse. Cimir, então, montou o projeto. Contou com a ajuda de amigos e comerciantes para que as meninas tivessem coletes e bolas. Ficaram praticamente um ano apenas treinando, até a estreia, em 2017, em um amistoso em Miguelópolis.

– Ganhamos de 1 a 0, as meninas fizeram uma festa danada. Aquele foi o pontapé inicial. A partir dali, passei a acreditar que o projeto poderia dar certo - conta Cimir

Depois de um começo de muita luta, o Fut-Fera passou a ter apoio do município e conseguiu também patrocinadores, como a Academia Pingo D’água, onde as meninas fazem treinamentos físicos gratuitamente. Cimir e a esposa, Letícia, oficializaram o projeto juridicamente. O Fut-Fera se filiou à Liga Paulista de Futsal Feminino do Interior, se transformando, assim, no primeiro time profissional de Guará. Os treinos técnicos e jogos acontecem no Ginásio de Esportes.

Com formação em dois cursos ministrados pelo Sindicato dos Treinadores Profissionais do Estado de São Paulo, Cimir diz que o objetivo principal do projeto é formar cidadãos:

– O Fut-Fera já tirou muitas meninas das ruas, das drogas. A gente exige que elas frequentem a escola - afirma Letícia de Oliveira Silva, presidente da entidade que abriga o projeto.

Segundo ela, 2019 foi o ano mais produtivo, esportiva e socialmente, pelo fato de muitas meninas terem sido encaminhadas para equipes de cidades maiores, onde também passaram a estudar em faculdades ligadas a essas equipes.

Bianca Martins, por exemplo, atualmente disputa futebol de campo pela Francana. Luana e Camila jogam futsal pela Ferroviária de Araraquara, ganham ajuda de custo e são universitárias. Assim como Fernanda e Bianca, que jogam em Bebedouro e estudam na Unifafibe. Por tudo isso, Cimir diz que o saldo do projeto é muito positivo.

– O resultado, até agora, foi muito bom para as meninas, tanto em casa, no relacionamento com a família, quanto na escola - diz ele. O caso da Daniela é a prova viva de que o projeto funciona.

AJUDE VOCÊ TAMBÉM - Pessoas jurídicas e também pessoas físicas que queiram destinar parte do Imposto de Renda para o Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCA) e, com isso, contribuir com os projetos esportivos de Guará podem procurar a servidora Luciana Vanzolin, na Secretaria de Assistência Social, pelo telefone 3831.9884.