A FORÇA DO FUTEBOL EM GUARÁ: A IMPORTÂNCIA DD EX-JOGADORES PROFISSIONAIS NO TRABALHO DE BASE

Categoria: ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO
Publicado em: 01/02/2021 08:32:36

Guaraenses que vestiram camisas de clubes Brasil afora – e também do exterior – hoje contribuem com a formação de cidadãos e atletas em escolinhas para meninos e meninas

Em Guará, o comando do trabalho de base reúne desde boleiros que ralaram muito em times e torneios amadores até ex-jogadores profissionais que adquiriram experiência e conhecimento rodando esse mundão velho sem porteira. Se a força das categorias menores na cidade conta com “amadores” como Marivaldo, Muranga e Bodinho – como já mostramos nas edições anteriores deste jornal – há também a contribuição importante de quem atuou profissionalmente em clubes do Brasil e do exterior.

Neste caso, estamos falando de pessoas como Dié, Gibi e Taynan – todos guaraenses, de nascimento ou por adoção.

Dié: “Experiência conta muito”

Aos 62 anos de idade, Daniel Nogueira está à frente do projeto Águas de Guará, mantido pela empresa que opera o abastecimento de água e tratamento de esgoto da cidade. Aberta a todos os interessados, a “Escolinha do Dié” reúne aproximadamente 200 crianças e adolescentes – meninos e meninas – dos seis aos 16 anos, que treinam de terça a sexta-feira, em dois períodos, no Centro de Educação Integrada Américo Migliori, nome oficial do Ginásio de Esportes do município.

Iniciado em novembro de 2005 para incentivar a prática esportiva entre jovens, a proposta do “Águas de Guará”, afirma Dié, é trabalhar com disciplina e responsabilidade todo o panorama físico, técnico, tático e psicológico do futebol. “Procuramos fazer da escolinha, além de um local de lazer, um ambiente de ajuste social, onde as crianças e adolescentes sintam satisfação em frequentá-la”, ele explica.

Dié diz que são feitas preleções semanais enfatizando a importância dos estudos para uma boa formação moral e profissional. “Utilizamos o desporto como meio de saúde, educação, disciplina, integração e confraternização”, relata. Provisoriamente interrompido por conta da pandemia, o projeto atendeu mais de três mil pessoas em 15 anos de funcionamento – tudo, segundo Dié, devidamente documentado em fotos, vídeos e relatórios.

Neste trabalho, Daniel Nogueira usa como base o período em que atuou como lateral-esquerdo em clubes profissionais – desde Orlândia e São Joaquim da Barra até Matonense, América de Rio Preto e São Paulo, pelo qual atuou na segunda metade da década de 1980 em uma equipe que contava com Dario Pereyra, Bernardo, Careca, Silas, Muller, Pita. “A experiência que eu tive durante anos como atleta profissional me dá a possibilidade de passar os ensinamentos que aprendi com meus treinadores e preparadores físicos”, diz.

Taynan: “Vamos levando no peito”

Equipe que frequenta o pódio em praticamente todas as competições que disputa, o Golden Boys tem como treinador da base Taynan Natanael Ferreira, guaraense de 28 anos que desde 2013, como profissional, rodou São Paulo e outros estados como atacante de times como Francana, Taquaritinga, Comercial, Independente de Limeira e Ivinhema, do Mato Grosso do Sul.

Fundado por Paulo Ricardo de Oliveira, o Paulo Orelha, que comanda o time principal, o Golden Boys reúne, em suas categorias de base, cerca de 70 meninos, divididos em duas categorias, dos seis aos 12 anos e dos 13 aos 18, que treinam durante toda a semana no campo do conjunto Nélio dos Santos. “Tiramos muitos moleques das ruas”, conta Taynan. “Acompanhamos eles na escola. Temos apoio das escolas e dos pais. Priorizamos bastante os estudos e a disciplina. Se o menino apronta alguma coisa, castigo mesmo. Vai ficar treinando só físico. Ou vai ficar só assistindo treino com bola”, afirma ele, que chegou a fazer dupla de ataque, em Limeira, com o polêmico centroavante Deyverson, ex-Palmeiras, hoje na Espanha.

Taynan lembra da oportunidade que o então prefeito em exercício (agora prefeito reeleito) Vinicius Engenheiro deu ao Golden Boys para disputar uma das Copinhas de Guará. “O Vinicius nos deu uniforme, tudo. A gente sobrevive com a ajuda de terceiros. A prefeitura às vezes nos ajuda com transporte, pedimos coisas para vereadores, donos de mercados. Vamos levando o projeto no peito”, ele afirma.

Embora tenha deixado o profissionalismo, Taynan não abandonou o futebol. Passou a jogar por equipes amadoras da região. Foi nove vezes campeão consecutivo do Campeonato Varzeano de Franca – sete vezes pela Vila Tião e as duas últimas pelo Aeroporto, pelo qual sagrou-se bicampeão nas temporadas de 2018 e 2019. “Toda essa experiência eu utilizo para melhoria da molecada em campo, e fora dele também”, avalia.

Mesmo nesse período de pandemia, a expectativa do Golden Boys é retornar aos campeonatos em março, com a disputa do Campeonato Amador da Liga de Brodowski, que reúne equipes sub-18 de mais de 30 cidades. “É um torneio importante, que dá ao campeão e ao vice o direito de disputar o Estadual da Federação Paulista”, diz Taynan. “É uma chance de ouro para muito moleque aparecer.”

Gibi: “Moleques têm potencial”

“Fazer o moleque aparecer” é também o grande objetivo de Daniel Alves dos Campos, que ganhou o apelido de Gibi de uma professora do “Nehif Antônio” por sempre levar revistinhas de Maurício de Souza para a sala de aula. Após uma longa carreira como jogador profissional, Gibi diz ter sido convidado pela prefeitura de Guará, no início do ano passado, a desenvolver um projeto de futebol com garotos da Vila Vitória – projeto que está sendo retomado agora, depois de um 2020 paralisado pela ameaça do coronavírus.

Naquela ocasião, Gibi conta que ele mesmo duvidava de que haveria crianças e adolescentes dispostos a entrar numa escolinha de futebol. Passou a divulgar a iniciativa no Facebook e, de repente, apareceram “uns 60 moleques”, com os quais ele encontrou muitas dificuldades, porque a molecada não queria saber de treinos físicos e táticos, só de jogar bola.

“O desafio, agora, é mudar a cabeça deles, fazer eles entenderem que antes de chegar numa determinada idade para fazer teste em time profissional é preciso aprender muito fundamento. Procuro passar para os meninos, hoje, toda a experiência que eu tive desde que comecei na base até no profissional, os métodos de trabalho, até mesmo os modos como eles devem se comportar num treinamento, no alojamento, como se vive o dia a dia dentro dos clubes, as viagens, concentrações. Eles estão gostando de aprender”, afirma ele, que do ano passado para cá se ocupou ainda de registrar o projeto como uma associação, batizada de Daniel Gibi 10.

“Para a garotada que está começando no projeto, que sonha em ser jogador de futebol, eu procuro ser amigo, treinador, professor, psicólogo e também um pai, porque chega menino de todo jeito, que passa droga, que comete roubos, que tem a família desestruturada ou mesmo não tem família”, afirma.

Nascido na capital paulista, Daniel Alves Campos veio para Guará com 5/6 anos de idade. Brincava de bola na praça e no campo – então de terra – da Vila Vitória. Aos 10/11 anos, entrou para a escolinha da Associação Atlética Guaraense (AGG). Treinou com o ex-zagueiro Toninho e o ex-goleiro Bandola.

Na base da Ituveravense, o meia-atacante canhoto chamou a atenção de “olheiros” em amistosos contra o Corinthians e o América, nos quais anotou gols. Aos 16 anos, foi para São José do Rio Preto. Em seguida, integrou o sub-20 da Francana, onde chegou a treinar com os profissionais. Profissionalizou-se na Lençoense. Passou por diversos times de Goiás e Tocantins. Aventurou-se na Croácia, na Coreia do Sul e no Japão – de onde enviou dinheiro para a mãe ir construindo a casa da família na Vila Vitória.

Radicado de vez na cidade, Gibi dedica-se integralmente à escolinha e, para isso, busca estrutura para, além de cidadãos, formar jogadores profissionais. “Quero trabalhar com alto rendimento”, avisa ele, que cultivou muitos contatos com observadores de clubes em todo o País. “Guará é um celeiro de jogadores. Os meninos têm potencial. Dá para formar bons profissionais”, ele garante.