O TALENTO E OS SONHOS DE UM JOVEM TENISTA DE GUARÁ

Categoria: ESPORTE
Publicado em: 17/02/2021 11:06:06

Faz vários dias que o comerciante Fabiano Pereira da Silva, com ajuda da esposa Aline e da filha Ana Luíza, se debruça em uma atividade estranha ao dia-a-dia da sua loja de utilidades domésticas no centro de Guará. Em casa, Fabiano aproveita qualquer hora vaga para revisar, abastecer e atualizar o currículo do filho Luiz Felipe, cujo sonho é se tornar tenista profissional.

Não é uma tarefa tão simples. Aos 13 anos de idade, Luiz Felipe Oliveira Silva tem um currículo digno de um trabalhador veterano. São – por enquanto – 14 páginas que retratam uma carreira já repleta de conquistas.

As últimas aconteceram em janeiro/fevereiro deste ano no Circuito Centro-Oeste de Tênis, promovido pela Confederação Brasileira da modalidade em Goiânia e Brasília. Foi um giro de três semanas no cerrado brasileiro, onde disputou nove etapas da sua categoria. De lá, Luiz retornou com a impressionante marca de nove medalhas, que a família fez questão de mostrar ao prefeito Vinicius Engenheiro, como agradecimento ao apoio recebido.

Luiz Felipe chegou à final de todas as etapas que disputou. Em simples, venceu duas e foi vice em outras duas. Em duplas, com o goiano Arthur Brom, ele alcançou as cinco decisões: ganhou quatro e foi vice na outra.

Bem criança ainda, Luiz começou a jogar tênis aos sábados na quadra da Associação Atlética Guaraense (AAG). “Nunca tinha visto tênis. Fui para conhecer e gostei”, ele conta. Quando surgiu em Guará, com o apoio da prefeitura, o projeto Jovem Tenista, Luiz passou a jogar três vezes por semana com o professor Reginaldo, que disse ao pai: “O menino leva jeito”.

Foi então que Fabiano começou a levar o filho em alguns torneios – nos quais, invariavelmente, Luiz sagrava-se campeão. O menino passou a treinar no Tênis Clube de Ituverava e logo depois no Clube de Campo, em Franca, para onde ia duas vezes por semana graças a uma carona.

Continuou a disputar torneios – e a galeria de medalhas e troféus só aumentava. Tudo aconteceu tão rápido que Luiz Felipe encerrou 2015, aos oito anos de idade, como primeiro colocado no ranking da Liga Alta Mogiana de Tênis. No ano seguinte, alcançou o topo do ranking da Federação Paulista de Tênis – e também em 2017.

A coisa começou a ficar séria e, com dificuldades, uma ajuda aqui, outra ali, a família bancava a participação do garoto em competições em Ribeirão Preto, Campinas, São José do Rio Preto, Aparecida de Goiânia, Uberlândia, Belo Horizonte, São Paulo – até que em 2019 a família juntou o que tinha e o que não tinha para mandá-lo aos EUA. Na terra do Tio Sam, em novembro e dezembro daquele ano, Luiz Felipe participou do Orange Bowl, o maior torneio infanto-juvenil de tênis do mundo, em Miami, sua primeira experiência internacional.

Jogo moderno

Com 1,76 metro de altura, 63 quilos, destro, dono de um estilo ofensivo de jogo e fã da frieza do sérvio Novak Djokovic, atual número 1 do ranking mundial, o guaraense Luiz Felipe Oliveira e Silva treina em tempo integral, desde o ano passado, com os “coaches” Murilo Madeira Martiniano e Douglas Collani no Instituto Nova República do Tênis, um complexo esportivo em Franca onde funciona uma escola de tênis para garotos de diferentes faixas etárias.

“Recrutamos o Luiz quando ele integrava o projeto Jovem Tenista. Nos chamou a atenção a facilidade que ele tem para jogar tênis, um jogo bastante agressivo e moderno”, afirma Murilo Martiniano. “É muito dedicado, sempre disposto a trabalhar para se tornar um profissional”, acrescenta o treinador, que ofereceu a própria casa em Franca para abrigar Luiz durante a semana e, assim, reduzir as despesas que a família tem para mantê-lo em atividade.

“O Luiz encontra alguma dificuldade em decolar por falta de apoio, de patrocínio. Hoje ele integra a equipe principal da Nova República do Tênis, de 14 tenistas. Luiz está entre os melhores da nossa academia”, avalia Martiniano, ressaltando que Luiz Felipe, atualmente, é o terceiro melhor tenista do País na categoria 14 anos, conforme ranking da Confederação Brasileira de Tênis.

É justamente para sanar a dificuldade citada pelo treinador – falta de patrocínio – que Fabiano Pereira da Silva se dedica a atualizar o currículo do filho. Com ele em mãos, o comerciante pretende visitar empresas a fim de conseguir parcerias para impulsionar a carreira de Luiz, que nesta e nas próximas semanas terá mais dois desafios: a disputa da Brasil Juniors Cup em Porto Alegre e, na sequência, o Banana Bowl, que vai reunir os tenistas mais promissores do Brasil em Criciúma, Santa Catarina.

“Depois, vamos tentar inscrevê-lo em torneios na Argentina, Uruguai, Paraguai, Colômbia, Equador”, anuncia Murilo Martiniano, explicando que, para isso, Luiz Felipe necessita de pontos no ranking sul-americano.

Potencial

O treinador diz que embora tenha disputado, até agora, apenas um torneio sul-americano, ano passado, no Rio de Janeiro, o jovem guaraense ocupa a 67ª posição no ranking continental, entre mais de 400 atletas da categoria até 14 anos. “Qualificação técnica para esses torneios maiores ele tem”, garante o treinador. “É um jovem de muito talento e com potencial para ser um dos melhores jogadores do País e do continente.”

Por treinar em Franca de segunda a sexta-feira, em dois períodos, Luiz Felipe fez o ano escolar, em 2020, a distância, independentemente da pandemia de coronavírus que assola o Brasil. E é da mesma maneira que ele vai concluir, neste 2021, o último ano do ensino médio, no Colégio Evolução, em Guará – com foco total na carreira de tenista. Um sonho? “Chegar ao Top 5”, projeta ele, que espera, para daqui a alguns anos, entrar no circuito mundial. “Mas sei que vou ter de ralar muito.”