AQUI É O CONJUNTO NÉLIO DOS SANTOS. OU SERIA DIB CHAUD?

Categoria: ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO
Publicado em: 27/04/2021 11:59:04

– Bom dia.

– Bom dia - responde Bacurau, enquanto varre folhas acumuladas em frente de casa, na manhã da terça-feira 6 de abril.

– Por favor, que bairro é esse aqui?

– Aqui é o Nélio.

– Nélio dos Santos?

– Isso mesmo - confirma ele, agora dando bronca no filho pequeno, que insistia em brincar com a água suja da sarjeta.

– Tô procurando o conjunto Dib Chaud. Você sabe onde é?

Bacurau coça a cabeça e se apoia na vassoura. O vizinho da frente, com quem ele conversava, se aproxima.

– Sei não. Sabe onde é, Lucas?

Neste início de outono, o tempo começava a mudar. Estava nublado, prenunciando a chuva de 17 milímetros que cairia no dia seguinte, para ajudar a salvar o milho safrinha que, por falta de água, começava a abrir o bico para os lados do Barro Preto, do Corgo Fundo e da Grota. Lucas acabara de chegar do trabalho. É tratorista e vigilante na Usina Alta Mogiana.

– Também não sei. Aliás, nunca ouvi falar.

Lucas é o apelido de Elismar da Luz Souza, que há 23 anos aportou em Guará, vindo do Piauí, após uma passagem por São Joaquim da Barra. Bacurau é o apelido do guaraense Carlos Ferreira Antunes, casado, quatro filhos, também tratorista de usina, a antiga Santa Elisa.

Ambos moram em uma das poucas ruas de um conjunto habitacional em Guará que possui dois nomes: um oficial e outro informal. O nome oficial do bairro é “Vereador Dib Chaud”. Mas todos o conhecem por “Nélio dos Santos”.

Iniciado na gestão do prefeito Chiquinho Iozzi (1989-1992), o conjunto foi planejado pelos engenheiros Enivalter Acetti e Cristina de Paula. Antes mesmo do empreendimento ser assumido pela Cohab de Ribeirão Preto, havia-se decidido que o nome do conjunto seria Nélio dos Santos, de quem a área de 7,5 hectares havia sido adquirida.

O nome Nélio dos Santos – lembra hoje o filho dele, Marcos dos Santos – passou a constar, desde o início, em todos os documentos que percorreram a trajetória burocrática do empreendimento. “Na verdade, o nome do conjunto não podia ser Nélio dos Santos porque meu pai estava vivo, e a lei não permite nome de pessoas vivas em locais públicos”, afirma Marcos.

A Câmara Municipal, então, aprovou projeto de lei nomeando o conjunto como “Vereador Dib Chaud”, em homenagem ao servidor público recém-falecido que ocupara uma cadeira no Legislativo por mais de uma legislatura e havia sido, inclusive, presidente da Casa. A lei aprovada pelos vereadores, de número 998, foi sancionada pelo então prefeito Alcides Furtado, em 23 de abril de 1993.

Faz 28 anos, portanto, que o conjunto construído pela Cohab, com 204 lotes de 200 metros quadrados cada, chama-se, oficialmente, Vereador Dib Chaud, o que é desconhecido pela grande maioria – senão a totalidade – dos moradores, que sempre se referiram a ele como Nélio dos Santos.

A confusão entre o nome oficial e o nome informal inclui até mesmo cobranças encaminhadas aos moradores: nos boletos, os endereços vêm com o nome de Chaud e de Nélio, dependendo se são emitidos pela Cohab ou pelas companhias de água e energia.

Oficial ou informal, o fato é que o conjunto, ao longo de sua história, acabou por prestar homenagem a duas pessoas que têm sólida relação com a cidade.

Dib pertencia a uma das três linhagens dos Chaud que migraram do Líbano para o Brasil no início do século passado e se estabeleceram em Guará. Foi servidor durante muitos anos e um político atuante. Casou-se com a professora Margarida Goulart – que faleceu há aproximadamente um ano – e teve dois filhos, Paula e William Goulart Chaud. Nas décadas de 1950 e 1960, integrou, com destaque, o meio-de-campo da Associação Atlética Guaraense.

Nélio nasceu em 1939 na Fazenda Taperão, em uma região que abriga agricultores guaraenses mas que pertence ao município de Ituverava. Passou a morar na cidade ao se casar com Maria Apparecida de Paula, em 1958. Foi agricultor e pecuarista no Sítio Rio Verde e, mais tarde, tocou propriedade em Goiás. Teve dois filhos: Nélio – morto precocemente – e Marcos. Morreu em 2001.

CURIOSIDADES

. A rua onde Lucas e Bacurau moram é a “Jerônimo Coelho Filho”, homenagem prestada pela Câmara ao funcionário público e músico que tocava piston na orquestra do maestro Arthur Afonso Bini (que dá nome à escola profissionalizante de Guará), em apresentações no coreto da Praça Nove de Julho e nos bailes de carnaval da Associação Atlética Guaraense.

. O conjunto Dib Chaud/Nélio dos Santos tem poucas ruas. Além da Jerônimo Coelho Filho, há as ruas com os nomes de João Bernardes da Silva, José Lucas de Oliveira e Antônio Felisberto de Figueiredo. O bairro é atravessado também pelo trecho final da Rua 7 de Setembro, que começa próximo à antiga Estação Ferroviária, hoje ocupada pela Caixa Econômica Federal.

. O Sítio Rio Verde, onde Nélio dos Santos trabalhou durante grande parte de sua vida, hoje é uma chácara, administrada pelo filho Marcos. Por ficar próximo da cidade, mais de uma parte do sítio original foi vendida para construção de conjuntos habitacionais. Antes da área de 7,5 alqueires onde está o conjunto Dib Chaud, Nélio dos Santos já havia vendido 12,5 hectares para o loteamento onde fica hoje o Jardim Paulista. O Jardim Alvorada também foi erguido em um pedaço de terreno da mesma gleba.

FOTOS

Na foto do time de Associação Atlética Guaraense, Dib Chaud é o último à esquerda, agachado. Na foto posada, Dib está à direita, com Zé Berto. Ambas as imagens foram cedidas por Valmir Berto. Ele acredita serem do início da década de 1960.

Na foto em família, Nélio dos Santos está com a esposa e com o neto que leva seu nome. Na outra imagem, ele está na represa do sítio Rio Verde.

Os moradores do conjunto Nélio/Dib são o Lucas (de camisa azul) e Bacurau (de camisa mais clara).