A INTOLERÂNCIA NOSSA DE CADA DIA: REDAÇÃO PREMIADA DO GUARAENSE BRUNO CONVIDA À REFLEXÃO

Categoria: EDUCAÇÃO
Publicado em: 16/12/2021 21:46:39

Depois das tão aguardadas chuvas, que baixaram a poeira e resgataram a umidade relativa do ar a níveis civilizados, fez sol na manhã de quarta-feira, 20 de outubro. O pátio e os corredores do Colégio Evolução – uma cooperativa de ensino em Guará – estavam vazios e silenciosos. Um e outro funcionário circulavam por ali, no piso cimentado. Os estudantes estavam recolhidos nas salas de aula. Na ala administrativa, o pessoal se ocupava das tarefas de rotina, enquanto Bruno Silva Teixeira, conduzido à mesa redonda de seis lugares pela diretora Neiva, tentava articular as primeiras palavras diante da pergunta inicial do repórter:

– Como você elaborou o tema proposto na redação?

Braços inquietos, tímido no último, como parece ser a sina de quase todo aluno inteligente, Bruno aos poucos se solta, com a voz abafada pela máscara de proteção:

– Procurei fazer um contexto histórico. Pesquisei as marcas deixadas pelas pandemias ao longo da história. Temos que estudar o passado para saber como agir - diz ele, a respeito do trabalho premiado no concurso “EPTV na Escola”, cujo anúncio saíra no dia anterior.

Aos 15 anos, filho do mecânico Igor e da comerciante Marcela, Bruno Silva Teixeira figurou entre os dez melhores trabalhos entre 13.075 redações escritas por estudantes de mais de 50 municípios que integram a área de cobertura da EPTV, emissora afiliada à Rede Globo, que para o concurso deste ano propôs o tema “Pandemia da intolerância”.

Intitulada “Pandemia milenar”, a redação de Bruno foge do lugar comum. Ao invés de abordar o sofrimento provocado pelos trágicos números da onda de Covid-19 que já ceifou a vida de mais de 600 mil brasileiros, Bruno mergulhou nas causas e consequências de moléstias e ações que assolaram a humanidade.

Em seu trabalho, Bruno cita as Cruzadas, que opôs cristão e muçulmanos nos séculos XI e XII; a “santa” Inquisição – que ele grafou assim mesmo, entre aspas – com a qual tribunais da Igreja Católica, entre os séculos XII e XVIII, perseguiram, julgaram e puniram pessoas acusadas de se desviar de suas normas de conduta; e o Holocausto, que no século XX levou à morte milhões de judeus pelas mãos de Hitler.

– A história mostra que as pessoas tendem a ficar com seus iguais, a não aceitarem os diferentes - avalia Bruno.

A professora que orientou Bruno e outros alunos do 9º ano do Ensino Fundamental para o concurso da EPTV, Ana Luiza Mariano Lance, explica que, neste ano, a estratégia utilizada no Colégio Evolução foi a de organizar uma roda de conversa com professores de outras três disciplinas – Filosofia, História e Atualidades – para trabalhar a analogia, fundamental, segundo ela, para redações bem-sucedidas, inclusive em vestibulares.

– Gostei do tema deste ano. Lida muito com preconceito, racismo, discurso de ódio. Em uma visão multidisciplinar, pudemos trabalhar esse aspecto da analogia. Como é extremamente estudioso e interessado, Bruno chegou ao objetivo ao citar momentos históricos de intolerância. É hora de buscarmos uma vacina para essa pandemia que se arrasta por tantos séculos - afirma Ana Luiza.

– O diferente sempre vai existir. O que importa é nossa capacidade de aceitar, de respeitar. Isso sim é importante - arremata Bruno.

Respaldo familiar é importante, diz secretário

Antes de ingressar na rede privada de ensino, Bruno Silva Teixeira passou por três estabelecimentos da rede pública em Guará. Do pré-primário ao 2º ano, estudou no Helena Telles. Do 3º ao 5º, no Nehif Antônio. O 6º e o 7º anos foram cumpridos no Urbano de Andrade Junqueira. 

“Enquanto aluno da rede pública, Bruno foi medalhista de ouro na Olimpíada de Matemática. É um aluno excepcional, promissor, de muito futuro. Tem o respaldo e o suporte da família, o que é sempre muito importante. O pai e a mãe dele são muito participativos. Mais uma vez, Guará é bem representada no concurso da EPTV”, avalia o secretário municipal de Educação, José Paulo Silvério.

No concurso “EPTV na Escola” do ano passado, o município também figurou na lista dos finalistas, com Leonora Leão da Costa Silva, 10ª colocada entre 16.838 redações inscritas.

Além de Bruno ter se classificado em 6º lugar entre as dez redações finalistas de 2021, o secretário lembra que, entre os 323 semifinalistas de toda a região, Guará emplacou outros quatro trabalhos, todos de alunos da rede pública, incluindo um do EJA (Ensino de Jovens de Adultos).

“Parabéns à gestão do Colégio Evolução, que está dando continuidade a esse trabalho semeado no Bruno há muitos anos”, ressalta Silvério.

PANDEMIA MILENAR

(Bruno Silva Teixeira)

O mundo já passou por diversas pandemias causadas por vírus ou bactérias, como varíola, gripe espanhola e peste bubônica, mas há uma pandemia muito antiga que já contaminou muitas pessoas, essa é a pandemia da intolerância. Esse mal atravessou séculos sempre deixando marcas em formas de agressão, as Cruzadas, a “santa” Inquisição, o Holocausto, quando houve muita violência e mortes.

Para tratar qualquer doença é preciso estudá-la, saber as causas, como se manifesta, os riscos e, com essas informações, procurar a prevenção, o tratamento e a cura. É preciso considerar que a intolerância é a demonstração de ódio sem controle próprio, já que tolerar não é amar, mas saber se conter e respeitar o próximo independentemente das características, comportamentos e ideologias.

As grandes manifestações de intolerância deixaram marcas na história e, como uma verdadeira pandemia, deixaram sequelas, pois até hoje há correntes de pensamento inspiradas nessa intransigência diante do que é diferente, como o neonazismo.

Tolerar é se conter, não deixar o ódio se manifestar, pôr a ética e a moral em primeiro lugar e deixar o orgulho de lado. Há muitas formas de se acabar com essa pandemia do ódio e do sectarismo, contudo duas merecem destaque: o poder público deve intervir com duras punições a quem fizer tais ataques, como também as pessoas devem passar a não mais tolerar a intolerância.