O TRABALHO DA RECICLAGEM E A COOPERAÇÃO COM O MEIO AMBIENTE EM GUARÁ

Categoria: MEIO AMBIENTE
Publicado em: 16/12/2021 21:49:08

– Meu nome é Jaqueline da Silva Leite. Tenho 29 anos e quatro filhos. Sou solteira. Este é o serviço que tenho. É dele que tiro meu sustento.

– Me chamo Clarice Amaro. Moro no Nélio dos Santos, sou solteira e tenho dois filhos que moram comigo. A cooperativa é muito importante para mim. Com o que eu ganho aqui eu pago aluguel e ponho comida dentro de casa.

– Meu nome é Josenilda Lopes da Silva. Sou solteira e tenho quatro filhos pequenos. Estou na cooperativa desde 2011. Dependo muito dela. Preciso desse serviço. Uso o dinheiro que ganho para pagar minhas contas e cuidar das crianças.

Todo dia elas fazem tudo sempre igual: acordam por volta de seis horas da manhã e partem para o barracão, a pé ou de bicicleta. Tomam um café, sobem no caminhão e às sete horas já estão rodando pela cidade, em busca de latinhas, garrafas PET, vidro, alumínio, papelão, ferro e uma infinidade de outros objetos.

Essa é a rotina quase diária de Jaqueline, Clarice, Nilda e de outras cinco mulheres que integram a Cooperativa de Trabalho dos Recicladores de Guará (Cooreg): Joana D’arc Aparecida da Silva Gomes, Sônia Amaro, Nair Henrique, Juliete de Paula Amaro e Priscila Maria de Lima. 

De segunda a sexta-feira, o caminhão da Cooreg percorre ruas e avenidas de todos os bairros. O itinerário obedece a um mapa estabelecido, por setores. De volta ao barracão, localizado na saída para Ribeirão Corrente, preparam o almoço. Um breve descanso e logo elas voltam ao batente. O material, agora, é jogado na esteira. É a etapa da triagem. 

Cada objeto é separado conforme o material com que foi produzido. Papel branco – incluindo livros, cadernos – vai para um lado; papelão, para outro. Garrafas plásticas coloridas, por exemplo, não se misturam com as “brancas”. Tudo tem que ser muito bem separado. Material “contaminado” perde valor. 

Uma vez segregado, o material é prensado em grandes e pesados fardos que vão sendo estocados em uma das paredes laterais do barracão, até serem adquiridos por duas empresas, uma de Ituverava e outra de Ribeirão Preto, com as quais a Cooreg mantém relacionamento comercial.

Por volta das 17 horas, elas retornam para casa, para outra jornada de trabalho: cuidar da própria casa e das pessoas que dependem delas.

Fundada em 2009, a Cooperativa de Recicladores de Guará já teve mais e menos integrantes. Atualmente, são estas oito mulheres que tocam o trabalho – importantíssimo, do ponto de vista social e ambiental – a partir da coleta de materiais que moradores e empresários separam e colocam na frente das residências e estabelecimentos comerciais. 

O trabalho é executado com muita dificuldade. No município, dezenas de outras pessoas também vivem da coleta de materiais recicláveis, isoladamente, recolhendo objetos em carrinhos improvisados. Muitas vezes, quando o caminhão da Cooreg passa, ainda que nas primeiras horas da manhã, grande parte do material separado pelos moradores já foi parar nos carrinhos dos coletores ambulantes, que circulam pela cidade geralmente à noite e durante a madrugada.

“A concorrência é grande”, afirmam as mulheres da cooperativa, que acusam os coletores individuais de uma prática desleal: “Em alguns bairros, os moradores colocam os recicláveis na calçada apenas quando o caminhão se aproxima. A música que sai do caminhão é a senha. Mesmo assim, quando o caminhão está chegando naquele bairro e toca a música, os outros se antecipam e pegam quase tudo o que tem valor”, reclamam.

O resultado é que a cooperativa acaba recolhendo uma quantidade bem menor do que poderia – e de menor valor também. 

Outra dificuldade – além da baixa adesão dos moradores, que ainda não se habituaram a separar produtos recicláveis gerados em casa – é em relação a alguns estabelecimentos comerciais que, por gerarem grande quantidade de material, cobram pela destinação dos recicláveis.

No maior ponto varejista da cidade, que gera cerca de 300 quilos de papelão/dia, a Cooreg compra o material por R$ 0,60 o quilo, para revendê-lo a R$ 0,70, depois de coletar, separar e prensar.

Organizada, a cooperativa tem tudo na ponta do lápis, em relação ao que sai e ao que entra de recursos. Normalmente, depois de quitar o INSS de cada cooperada e bancar outras despesas, como a da contabilidade, sobram para cada um entre R$ 400 e R$ 600.

A situação seria mais difícil não fosse a ajuda indireta da prefeitura, que cede o caminhão e o motorista e cedeu também o barracão – erguido anos atrás com o dinheiro de uma multa ambiental. 

“Aqui no barracão temos espaço suficiente para tratar mais material e muita vontade de trabalhar”, afirmam as oito mulheres. “Nos ajudaria muito se o comércio, os bancos, as escolas e também os moradores separarem o material que sobra. O que para os outros é lixo, para nós é nosso sustento. É só avisar que a gente vai buscar. A gente não recebe salário da prefeitura. O que a gente ganha sai do que a gente coleta e vende. Se mais pessoas nos ajudarem, podemos ganhar um pouco mais também”, elas acrescentam.

Moradores e empresários interessados em ceder seus resíduos para a Cooreg podem entrar em contato pelos celulares 99350.0903 (Joana), 99290.6219 (Clarice) e 99240.7637 (Nilda) ou também com a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Socioeconômico e Meio Ambiente, pelo 3831.1387, para agendar dia e horário para a coleta.