ZÉ ANDRADE: 50 ANOS DE PREFEITURA, SEM NENHUM ARRANHÃO

Categoria: ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO
Publicado em: 11/10/2022 10:09:57

Havia muito tempo que José de Andrade Filho não acordava às sete ou oito horas, para um sossegado café da manhã. Esse privilégio ele conquistou há poucas semanas, desde que se aposentou de vez como servidor da prefeitura de Guará, após 50 anos de trabalho ininterrupto.

Até então, ele pulava da cama às quatro e meia da madrugada – sem necessidade de despertador – e, uma hora depois, iniciava a jornada diária: quatro “bate e volta” a Ituverava, conduzindo a van com pacientes ao AME da cidade vizinha.

No último dia 9 de agosto, no posto central, amigos ambulanceiros e do transporte sanitário o homenagearam em seu último dia de trabalho. Entre uns comes e bebes, os secretários Túlio Chaud Colferai (Saúde), Marcelo Sotero (Governo), em nome do município e César Moreira (Administração) agradeceram a Zé de Andrade pelo meio século de bons serviços prestados.

Os 50 anos de prefeitura começaram em 1972, manipulando produtos químicos na água da antiga estação de tratamento, a “Bomba”. Pouco tempo depois, Zé de Andrade já dirigia o caminhão-pipa que, naqueles tempos de pouco asfalto, amenizava a poeira das ruas entre o centro da cidade e a praça da Vila Vitória.

O tanque do caminhão, ele se recorda, era abastecido na bica d'água que havia no córrego da Santa Casa e que, depois, foi instalada no Matadouro, para captar água do Rio Verde. “Começava a molhar as ruas às cinco da tarde e ia até cinco da manhã”, lembra Zé.

Do caminhão-pipa ele passou para o caminhão basculante, que recolhia o lixo dos moradores. Menos de um ano depois, passou à função que exerceu até recentemente: a de motorista da Saúde, dirigindo ambulâncias que transportaram milhares de guaraenses para atendimentos eletivos e de urgência em hospitais de outras cidades.

Antes de fazer a linha para Ituverava, na qual trabalhou nos últimos dez anos, conduziu a linha para Ribeirão Preto, a linha para Franca, a linha para Uberaba e, também, a linha que transportava pacientes a Barretos, para consultas, exames ou tratamento de câncer.

Nesse tempo todo, conviveu com muito sofrimento, seja dos pacientes e familiares que transportava, seja das vítimas dos muitos acidentes que encontrou pelo caminho. “Vi muita coisa feia por essas estradas”, ele resume, tentando esquecer as cenas de pessoas mortas ou seriamente feridas nas colisões que testemunhou nas então precárias rodovias da região.

Servidor concursado, Zé de Andrade aposentou-se pela primeira vez em 2007 e, agora, pela idade-limite de 75 anos. Ao todo, foram 43 anos na condução de ambulâncias da Secretaria Municipal de Saúde. “Nunca arranhei um veículo da prefeitura. E também nunca apresentei um atestado”, ele se orgulha.

José de Andrade Filho nasceu em Miguelópolis em 10 de outubro de 1947. “Aos quatro ou cinco anos”, veio com a família para Guará. O pai trabalhava na Fazenda Água Fria, onde Zé começou a estudar na escolinha rural e onde permaneceu até os 18 anos.

O primeiro serviço como trabalhador registrado foi na construção do Posto Algodoeira, em 1968, em cujo restaurante ele trabalhou como balconista, até entrar na prefeitura. Casou-se com Maria Helena Bachiega, com quem teve cinco filhos.

Por hábito, continua acordando relativamente cedo, para atender eventuais chamadas para conduzir moradores de Guará – agora como uber. “Não gosto de ficar em praça, nem de pescar. Arrumei alguma coisa pra fazer, para não entrar em depressão”, ele justifica.

Viúvo, casou-se há nove anos com Luciana, com quem divide uma casa alugada na Rua São João, com amplo terreno no fundo, onde, aos domingos, costuma preparar o almoço em um fogão de lenha improvisado à sombra de uma mangueira sabina.

“Terminei meu ciclo com saúde”, afirma Zé de Andrade, sobre a aposentadoria definitiva. “Trabalhar na prefeitura é bom, se você trabalhar direitinho. Passei por onze mandatos e nunca arrumei briga com nenhum prefeito, nem dei motivo para isso. Graças a Deus, só fiz amigos.”