1968: UM GUARAENSE É CONVOCADO PARA O ‘JOGO DA RAINHA’

Categoria: ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO
Publicado em: 28/11/2022 10:59:00

Dentre as mais de cem mil pessoas que estiveram no Estádio do Maracanã naquele domingo ensolarado de novembro de 1968, exatos 54 anos atrás, muito poucas podem se dar ao luxo de garantir terem estado tão próximos da rainha Elizabeth II da Inglaterra quanto o guaraense Benedito Benjamin Ferreira.

Ferreira era lateral-direito do Vasco e, como tal, fora convocado pelo técnico Paulinho de Almeida – que o treinava no clube cruzmaltino – para integrar a Seleção Carioca que enfrentaria a Seleção Paulista no dia 11 daquele mês.

O amistoso foi organizado pelas federações de ambos os estados para atender o pedido da própria rainha, que, em visita ao Brasil, manifestara o desejo de ver Pelé em ação. A soberana do Reino Unido havia desembarcado no Recife, dez dias antes, com os principais representantes da Coroa Britânica, em missão diplomática para estreitar relações comerciais com o país. 

Depois de passar pela capital pernambucana, por Salvador, Brasília, São Paulo e Campinas, o Rio seria a última parada da comitiva britânica. O gigante Macaranã, então, foi preparado para o encontro de duas majestades: Elizabeth II – que assumira o trono com a morte do pai, Alberto, em 1952 – e Edson Arantes do Nascimento, já bicampeão do mundo, o Rei do Futebol.

“O estádio estava cheio. O jogo era festivo, porém, em campo, o ritmo era intenso, competitivo, com muita qualidade, por conta dos atletas que lá estavam, como Gerson, Rivelino, Jairzinho, Ademir da Guia, Paulo César e Pelé”, conta Ferreira. 

“Ao final da partida, a rainha passou entre os jogadores, mas quem mais se aproximou dela foram Gerson e Pelé, que recebeu o troféu das mãos dela”, relata ele, que naquela tarde assistiu a tudo de camarote: reserva da Seleção Carioca, passou o tempo todo no banco de reservas.

O amistoso, que reuniu o time praticamente inteiro da Seleção Brasileira que, em 1970, conquistaria o tricampeonato mundial, no México, foi vencido pelos paulistas, 3 a 2. Pelé marcou, ali, o gol de número 900 de sua carreira – o milésimo viria no ano seguinte, contra o Vasco de Ferreira, de pênalti, também no Maracanã.

Em seu álbum de família, Ferreira tem uma foto em que acompanha o amistoso ao lado de Denilson, do Fluminense, e de Onça, do Flamengo. Outra foto que ele guarda com carinho é a do time do Vasco posado no Maracanã com a faixa de campeão carioca de 1970, título muito comemorado pelo clube, após uma década de jejum.

O “Jogo da Rainha”, como ficou mundialmente conhecido aquele amistoso, foi um dos momentos gloriosos da carreira de Benedito Benjamin Ferreira, nascido em Guará em 4 de abril de 1943, em uma família de nove irmãos. Moravam próximo à chácara de Arnaldo Nicolela, na “Coloinha”.

Em Guará, o primeiro time pelo qual atuou foi o Pedrinha, que levou esse nome por ter tido, no elenco, vários funcionários de uma firma de Uberaba contratada pela prefeitura para fazer o piso das calçadas da então recém-pavimentada Rua Deputado João de Faria. 

Feitas com pedras portuguesas brancas e pretas, as calçadas exibiam – algumas ainda exibem – o mesmo desenho em forma de ondas do mar que consagrou o passeio público da praia de Copacabana.

O professor aposentado e atual diácono Toninho Chaud lembra que na época do Pedrinha – que chegou a disputar campeonatos municipais – Ferreira era o “Ditinho”. “Eu cheguei a jogar no ‘segundão’ do Pedrinha”, afirma Toninho, referindo-se ao apelido que se dava, naquela época, aos aspirantes do time principal. 

Toninho lembra que, além de “Ditinho”, também jogava no Pedrinha um dos irmãos de Ferreira, conhecido como Baltasar, que, mais tarde, ao jogar profissionalmente no XV de Jaú, teve o apelido trocado para “Guará”. Segundo Toninho, o Pedrinha não tinha campo próprio, mas “inaugurou” e chegou a treinar no terreno onde hoje está a Escola Municipal Nehif Antônio.

Outros dois irmãos de Ferreira tornaram-se jogadores profissionais: Carlos Roberto, que atuou na Ferroviária, no Botafogo de Ribeirão, no Olímpia e no Velo Clube, de Rio Claro, e Clóvis, que jogou pela Internacional de Bebedouro e pelo Atlético Clube Orlândia.

O início da carreira profissional de Ferreira foi na Ituveravense, que chegou a disputar as divisões inferiores do Campeonato Paulista. Embora jogasse pela equipe da cidade vizinha, Ferreira também atuava no time da Associação Atlética Guaraense. Foi durante um treino no campo da AAG que selou o destino de Ferreira rumo a clubes maiores do futebol brasileiro.

Quem conta é Geraldo Chaud, considerado o maior centroavante da história da Guaraense: “Um diretor do Comercial, doutor Renato, que era delegado de polícia em Ribeirão Preto, veio a Guará para ver o Mário Monteiro, lateral-direito titular da Guaraense. O Mário nunca perdia um treino. Mas, justo naquele dia, ele faltou. O Ferreira treinou no lugar dele. Doutor Renato gostou do que viu e o levou para o Comercial”.

Do Comercial, Ferreira foi para o Vasco. Ainda jogou pelo Santa Cruz, de Recife, até encerrar a carreira no Botafogo, em Ribeirão, onde reside com a esposa Dirceia Luz da Silva Ferreira e o neto Felipe. Ferreira e Dirceia têm três filhos: o advogado Vinicius, o técnico de futebol Alexandre e Renato, que trabalha com futebol no México.

“Atualmente meu pai trata da doença de Alzheimer”, informa Alexandre, que coordena um dos polos da Ronaldo Academy, franquia idealizada pelo “Fenômeno” para formar atletas e cidadãos conscientes e éticos. “Ele tem o ritmo de vida bem mais lento que o de costume, pois sempre foi muito ativo”, diz Alexandre. “Mas reconhece as pessoas e lembra bem do passado.”