GUARAENSE CELSO LOPES LANÇA ‘CONTOS TORTOS’

Categoria: ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO
Publicado em: 11/05/2023 19:53:00

Radicado em São Paulo há muitos anos, o guaraense Celso Lopes lançou, em abril, o livro “Contos Tortos”, com micro e minicontos em que, segundo ele, se destacam situações e vivências de personagens com suas especificidades de abordagens. “O livro reúne uma ampla diversidade de temas e formatos que desenvolvi ao logo do tempo”, afirma Celso, formado em Letras e pós-graduado em Literatura Brasileira.

Na coletânea de “Contos Tortos”, há “O anjinho dos catecismos”, “Ouriço”, “Querida tia”, “Duelo sobre a mesa”. “Carcamanos”, “Par ou ímpar”, “Final dos tempos” e outros textos. Leia, ao final, “Galo de Briga”.

Celso Lopes integra o grupo de autores, escritores e afins da Academia de Letras e Artes de Guará (Alaguará), que se reúne mensalmente, on-line, para discutir alguma obra literária, musical, do cinema ou do teatro.

Ele já é autor de obras como “A inquietude íntima das ostras” (poesias), “Dei bandeira, hein?” (mosaicos urbanos), “Pedra na Contraluz”, “Dias Contados”, “Porões” (contos), “O pulo do rato e outros relatos” (crônicas). Interessados em adquirir “Contos Tortos”, com frete grátis para todo o Estado de São Paulo, podem acessar os links celsolopes.com.br e samburaliterario.com.br.

GALO DE BRIGA

Seo Raúl é um homem alquebrado pela idade, o que o impede de fixar os olhos de cada um dos seus interlocutores ali na roda; por isso, sempre pede ajuda às mãos, aos movimentos que ambas promovem diante daquela incrédula plateia. Vez ou outra, as mãos operam um rodopio dissimulado, parecendo agarrar alguma coisa que a gente não vê e não atina. As pessoas que dele se acercam, ora riem, ora se surpreendem ou até lhe escancaram desagrado. É o caso do Bajula, indivíduo escroto, dono de um risinho estridente, capaz de irritar até quem passa ao largo da conversa. Bajula aproveita qualquer deslize e não deixa por menos: espezinha Seo Raúl, repetindo com a boca torta, emprestando ao tom da voz um grunhido de porta rangendo: 

- Coooonta outraaaaaa, velhinhoooo!... 

Seo Raúl sabe que o Bajula é um escroque, que vive de pedir favores; bajula até mesmo o gerente Valdir – que, com desculpas, leva encomendas pra madame Bajula e passa lá com ela muitas tardes no bem-bom. Agora, Seo Raúl fala de uma abóbora especial, colhida recentemente no fundo do quintal – Seo Raúl fala e não titubeia – e faz cada um dos descrentes acompanhar-lhe o rodopio das mãos, que descrevem desde a semente, passando pelo broto, a plantinha rasteira, a flor, o fruto pequeno, e enfim, a abóbora em tamanho admissível, e depois... bem, depois as mãos do Seo Raúl desenham a abóbora, que, de pé, atinge dois palmos e meio acima do telhado da casa. Seo Raúl aponta para o alto num gesto profético, como se ela, a abóbora gigante, ali estivesse... Não está, mas lá estão cravados, e atentos como nunca, todos os olhos repletos de incredulidade. Menos os do Bajula, que não perde tempo e inventa logo um som que imita uma tosse comprida:

- Truuuco, Seo Raúl!....Truuuuucoooo!... 

Hoje, os olhos de Seo Raúl parecem atados, indissoluvelmente, à roda. As mãos de Seo Raúl, levantadas à meia altura, gesticulam ao ritmo cadenciado das suas estórias. Como um galo-de-briga, elas parecem  nos fazer crer  que lutam por algo bem diante do nosso nariz... e  que hoje, ali, veremos revelado; as mãos descrevem um complexo exercício gestual, que tanto podem estar falando da abóbora gigante – maior que a casa – ou do galo de briga garnizé, o rei-do-terreiro; Seo Raúl  faz brilhar, ali,  um riso de vitória, tal qual as “mordidas” impiedosas do seu galo-de-rinha, o garnizé Brioso, capaz  de trucidar indianos puros e arrancar-lhe as  penas e o sangue... 

Seo Raúl, com as mãos agitadas, tal como um galo invencível que luta, bravamente, por um lugar ao sol, deixa ver ali, agora, naquelas mãos quase mágicas, o objeto nu, inteiro, a arma, o revólver que, num relance, dispara com pontaria e endereço certos: bem no centro dos olhos pequenos e na boca terrível do desalmado Bajula.